Saturday, June 03, 2006

Untitled - Parte I

João olhou de relance para dentro da sala iluminada por uma pesada luz amarela que lhe dava um aspecto soturno. Fazia hoje um ano que Anabela tinha saido de junto de si para nunca mais voltar, tendo levado consigo toda a vida que outrora estivera presente naquele local.
Demoraram meses até que João conseguisse dormir sem lhe vir incessantemente à cabeça as imagens do acidente, o precipício, o carro totalmente destruido, aquela curva fatal na Serra da Arrábida. O corpo de Anabela nunca havia sido encontrado, provara-se que o veiculo se havia incendiado antes de mergulhar nas águas do Sado, pelo que as autoridades acabaram por encerrar o processo sendo atribuido o acidente a excesso de velocidade, e dando-a como morta e o corpo como desaparecido e levado pelo caudal do rio.
João senta-se na poltrona da sala e desliga a luz, deixando que a luminosidade de uma noite quente de Setembro ilumine aquele espaço através das enormes janelas, aonde os cortinados se agitavam de tempos a tempos com a brisa que entrava através das janelas entreabertas. Olha para a lareira fixamente, com o olhar perdido nas lembranças do seu passado. Recorda os sorrisos, o som doce da voz de Anabela chamando-o para junto de si, as noites frias de Inverno que passaram junto à lareira, silêncio absoluto apenas quebrado pelo encanto da pessoa mais fascinante que havia conhecido. A qualquer som que ecoasse pela casa João era assolado pela esperança de que Anabela entrasse porta dentro e o abraçasse, beijasse, acordar e ver que tudo não havia passado de um pesadelo. Mas logo voltava à realidade e tomava consciencia de que não era um sonho, era real, e teria que continuar a sua vida. E no sofá João adormece, levado pelo sonho aonde reencontra os braços da pessoa que ama.

7.00 da manhã, toca o despertador. Normalmente 5 minutos são passados na cama a ouvir as primeiras notícias do dia, no entanto ao olhar para a data liberta um suspiro e levanta-se. Abre a janela e deixa que a luz do sol invada o quarto. Vai estar um dia quente, pensa, enquanto observa o movimento na rua. Passam hoje 4 anos que tudo aconteceu, João continuou a sua vida e comprou um apartamento em Lisboa, aonde está agora a morar. Sai a correr para ir trabalhar, pois já está atrasado. Hoje é um daqueles dias em que o duche de manhã não o queria deixar sair, e sabia que iria apanhar trânsito. Ao abrir a porta do carro lembra-se que tinha combinado ir almoçar com Inês, uma rapariga que conhecera aquando da sua primeira visita ao local onde agora trabalhava.
Inês era directora do departamento publicitário de uma empresa bastante promissora, no entanto havia-lhe sido feita uma proposta irrecusável pelo que estava de saída. João iria ocupar o lugar onde estava Inês, e coube-lhe a ela mostrar os projectos que estavam a ser desenvolvidos.
Ao vê-la pela primeira vez, automaticamente João recordou Anabela, a mesma tez branca fazendo contraste com os cabelos lisos e castanhos, a expressão que fazia quando sorria. Involuntariamente o olhar de João perdeu-se observando Inês a explicar os detalhes deste e aquele projecto, aquilo que havia sido pedido por tal cliente e o que deveria ser focado no artigo publicitário. Inês não foi indiferente ao efeito que produziu em João, e sorria.
A decisão de deixar o passado enterrado já havia sido tomada, e quando Inês escreveu o seu número num post-it caso ele quisesse falar melhor sobre os projectos que iria agora continuar a desenvolver. Seguiram-se vários encontros, nos quais se desenvolveu uma afinidade entre ambos, tendo João deixado a imagem de Anabela para trás. Nunca havia contado este episódio da sua vida a Inês, e pretendia continuar assim.
Inês tinha combinado um almoço com João, mas ele não ainda não confirmara. A sua vida continuara mas este dia não era ainda totalmente indiferente, pelo estava ainda indeciso quanto ao almoço.
Decidiu que seria melhor adiar um dia, e ligou-lhe, dando uma desculpa esfarrapada, face à qual Inês protestou docemente, perguntando se não queria então ir jantar a sua casa. Incapaz de dizer que não à voz doce de Inês, combinaram para as 20h.

(Esperem pelo resto da história... Brevemente)

Friday, June 02, 2006

Quem és?

Penso em ti e não sei porquê.

Invades o meu pensamento involuntáriamente antes de ir dormir, e pergunto-me o porquê de estar a pensar em ti. Pergunto o que terás tu de tão especial para despertares assim a minha atenção, e não sei responder. E assim recordo o teu olhar, o teu sorriso, visto de longe num relance.
Sinto-me
estranho e não sei explicar porquê, mas sei que não é normal esta ansiedade que me domina, ansiedade de saber quem és. Procuro-te com o olhar, mas escondo-me se me olhas, perco-me no instante em que os teus olhos cruzam os meus. Mas porquê, continuo sem saber explicar, ultrapassa-me o fascínio que a tua presença exerce... E ainda assim, penso que nem sabes quem sou.

Diz-me quem és, desconhecida...